segunda-feira

Cristianismo antes do Cristianismo...

... Portanto, na base do cristianismo está Jesus Cristo. E na base de Jesus Cristo está uma vivência, um comportamento, um modo de ser homem, um estrutura que vivída radicalmente por Jesus de Nazaré fez com ele fosse designado como o Cristo. Existe pois uma estrutura crística dentro da realidade humana que se manifstou de forma absoluta e exaustiva na vida, morte e ressureição de Jesus de Nazaré. A estrutura crística é anterior ao Jesus histórico de Nazaré. Ela preexistia dentro da história da humanidade. Todas as vezes que o homem se abre para Deus e para o outro, sempre que se realiza verdadeiro amor e superação do egoísmo, quando o homem busca justiça, solidariedade, reconciliação e perdão aí se dá verdadeiro Cristianismo e emerge dentro da história humana a estrutura crística. Assim pois Cristianismo pode existir antes do Cristianismo; mais: cristianismo pode se verificar também fora dos limites cristãos. Isto é, cristianismo se realiza não somente onde é professado explicitamente e vivido ortodoxalmente. Mas surge sempre e onde o homem diz um sim ao bem, à verdade e ao amor. Antes de Cristo o cristianismo era anônimo e latente. Não possuía ainda um nome, embora existisse e fosse vivido pelos homens. Com Jesus Cristo o cristianismo ganhou um nome. Jesus o viveu com total profundidade e absolutidade que por antonomásia passou a chamar-se de Cristo...
  Cristianismo não é somente uma cosmovisão mais perfeita. Nem uma religião mais sublime, muito menos uma ideologia. Cristianismo é a vivência concreta e consequente  na estrutura crística, daquilo que Jesus de Nazaré viveu com total abertura ao outro e ao Grande Outro, amor indiscrimado, fidelidade inabalável à voz da consciência e superação daquilo que amarra o homem ao seu próprio egoísmo... 
 Na assim chamada parábola dos cristãos anônimos - Mt 25, 31-46- o juiz divino medirá os homens todos pela capacidade que tiveram de amor para com os semelhantes. Quem recebeu o peregrino, vestiu o nu, alimentou o faminto e saciou o sedento, acolheu não somente um  homem mas incognitamente também o próprio Deus. No fundo se quer dizer que a união de amor e a abertura ao tu humano implica em última radicalidade uma abertura ao Tu absoluto e divino. Deus está sempre inserido onde há amor, solidariedade, união e crescimento verdadeiramente humanos. Salva-se não simplesmente aquele que se filiou à confissão cristã, mas aquele que viveu a estrutura crística... O que mais conta é a vivência concreta e consequente de uma realidade e de um certo tipo de comportamento que Jesus de Nazaré tematizou, radicalizou e tornou exemplar...

 ( Trechos do livro Jesus Cristo Libertador-pág. 184-185- Leonardo Boff- Editora Vozes)

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